Tenho uma rosa tatuada por todas as Rosas da minha vida. A minha mãe. A minha bisavó. Mulheres que me inspiram diariamente. Não cheguei a conhecer a minha bisavó, mas de todas as histórias que sei dela, percebo que herdei a sua força e determinação. Imagino-a a lutar pelos seus direitos, a não se deixar ficar mal e a colocar-se à frente na hora de lutar pelos seus objetivos. Na verdade, não é só a bisavó Rosa que eu imagino assim, mas sim todas as mulheres que respiram o oxigénio deste mundo. Vivemos lutas diárias que nos elevam a categorias de deusas, fazendo o mundo crer que o politeísmo é real e que estamos todas a partilhar um lugar divino e etéreo de liderança. Pelo menos, é assim que pretendemos ser vistas, consideradas, tratadas. Mas a realidade não é essa, e, muitas vezes, somos as escravas do templo sagrado. Espezinhadas, mal tratadas, desconsideradas. A receber menos do que os homens. A ficar mal vistas quando fazemos atividades ou trabalhos que, “supostamente”, não podem ser feitos por outro género que não o masculino. Como se houvesse um livro sagrado que ordenasse algo assim, como que regras que não devem ser postas em causa. Estereótipos que se desenvolveram ao longo dos séculos e que não fazem sentido algum. “És mulher, como é que sabes tanto de futebol?”, “tu, a fazeres um desporto de homem?”, “esse curso é demasiado masculino para ti”, “tens um humor muito masculino”, “nem tens força para abrir esse frasco, pede a um homem”. Tudo citações que podem ser ouvidas diariamente de forma muito fácil. Pratiquei taekwondo durante cerca de seis anos, embora todos esperassem que eu fosse menina de ballet. Não era suposto, não é, sociedade? Pois bem, vou-te contar um segredo: algumas regras devem ser quebradas. Lá porque é algo tido como verdade universal, não significa que esteja correto. É apenas uma falsidade à espera de ser deitada abaixo. Há mulheres bombeiras, calceteiras, gestoras, mecânicas, realizadoras, empreendedoras, fotógrafas, arquitetas, matemáticas, astronautas, mulheres. Tal como deve ser, a exercer um trabalho que qualquer ser humano é capaz de realizar. A bisavó Rosa não aprendeu a ler nem a escrever, infelizmente. Na época, as mulheres não iam à escola, ficavam em casa a limpar, a cuidar dos irmãos, a fazer recados. No entanto, a bisavó Rosa sabia muito da vida. Cresceu e tornou-se comerciante, daquelas que nos sabem demover bem. Mais do que uma estatística, foi uma realidade, e a bisavó Rosa foi mais uma das mulheres que, mesmo analfabeta, sabia que poderia chegar longe.
O mesmo acontece com todas as Rosas deste mundo, que, mesmo quando não conseguem maximizar as suas capacidades devido a um estereótipo, sabem que podem fazer nascer um jardim com o pólen que é levado do seu interior.
Infelizmente, de uma rosa, caíram treze pétalas, este ano. Na fotografia tenho onze, porque era a realidade até há dois dias. Não esperava que o número se alterasse. Nem devia ter acontecido. Houve alguém que não soube cuidar e regar. Que achou que puxar pelas pétalas não iria fazer com que elas caíssem. Só alguém que não percebe muito de natureza, claro. Alguém que vive no templo sagrado e que decidiu ter escravas para alimentar o ego e para se sentir um Deus.
O mundo é uma flor e as mulheres as suas pétalas. Não quero ver este mundo murchar, não quero ter de ver mais pétalas a cair. Não quero sentir que a tatuagem no meu braço se vai desvanecer porque um levantar de braço se tornou mais forte do que se esperava. Só quero ver os braços a serem levantados para abraçar e os corpos a serem inclinados para se beijar. Todos aqueles que cá andam para estragar o jardim não merecem nele entrar. Não quero ver mais pétalas a cair. Por favor.
Que continuemos a lutar e a ser tudo aquilo que sempre sonhámos. Que desenvolvamos espinhos que nos vão proteger de quem vem por mal, mas que ganhemos a cor mais bonita nas nossas pétalas. Que quem vem por mal queira vir por bem. Que o mundo se torne mais mundo, mais florido, mais de todos, para todos.
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